Grandes vozes sem acompanhamento
Este é daqueles artigos que vos vai entrar pelos ouvidos adentro, por isso recomendamos que agarrem nos vossos headphones e esqueçam televisões, caras-metade e notificações. Vamos ouvir vozes, e apostamos que vão ficar malucos.
Gravar uma canção implica muito trabalho. Um disco está acabado depois de se colocarem os vários instrumentos em diversas faixas e, com a facilidade que existe em gravar em casa, podemos sobrepor (overdub, em inglês), o mesmo instrumento várias vezes. Mas fazer o processo inverso também é divertido: desmontar uma música faixa a faixa, até se perceber o que fez quem, e como.
Estes exemplos que vos trazemos são de faixas (quase) isoladas de vozes de grandes músicas, por vezes com algum acompanhamento, para que vejam como o trabalho de voz destes senhores é incrível. Já sabíamos, mas no meio do trabalho da banda inteira, não tínhamos essa noção. Ora ouçam.
Temptations - My girl
Um dos grandes grupos pop dos anos 60 eram os The Temptations, que assentavam nas suas harmonias vocais para criar clássicos instantâneos como “Cloud Nine” ou “Ball of Confusion (That’s what the world is today)”. Mas o que os lançou para o estrelato foi uma canção chamada “My Girl”, escrita por Smokey Robinson e Ronald White dos The Miracles, em que aplicaram todas as subtilezas harmónicas que conseguiram no coro, que apoia a fantástica voz de David Ruffin. Um verdadeiro caso de estudo em bom gosto.
Marvin Gaye - I Heard It Through The Grapevine
Outro dos grandes vocalistas da época foi Marvin Gaye, que com o seu timbre sensual ajudou ao aumento da população mundial. Se Marvin Gaye acompanhado pela banda já tem um presença de peso, sozinho ilumina-nos a alma. Tomem atenção à forma como prolonga as palavras, com subidas límpidas, como mede os tempos, e onde respira, numa lição suprema de expressão e sentimento. Sem dúvida, um dos maiores de sempre.
Pearl Jam - Black
Eddie Vedder é dos vocalistas mais importantes dos últimos 30 anos, e fez escola, com a quantidade de sucedâneos que surgiram nos anos 90. Sem ser um vocalista de enorme qualidade vocal, é dos mais eficazes e dos mais expressivos. Neste clássico dos Pearl Jam, ele prova que não são só as palavras que são importantes numa canção, numa gravação retirada das faixas originais, onde podemos ouvir também a guitarra de Mike McCready a complementar a linha vocal.
Queen - Bohemian Rhapsody
O “Bohemian Rhapsody” é provavelmente, o maior feito musical na história do Rock. São só 180 overdubs de voz, um prodígio megalómano da técnica na altura, que dão uma dimensão operática a esta obra prima. Lá no meio está a voz incrível de Freddie Mercury que, isolada, passa a sobrenatural. Esta faixa tem ainda as linhas de guitarra de Brian May, só para ficarmos de queixo (ainda mais) caído.
Beach Boys - Wouldn't It Be Nice
Se os Queen foram reis com esta rapsódia, o mestre das harmonizações foi Brian Wilson. O génio por detrás dos Beach Boys estica as capacidades vocais da rapaziada, tanto na voz principal como nas de suporte. Segundo um dos membros da banda, tiveram que regravar imensas vezes porque nunca acertavam com o ritmo. E se ouvirem com atenção, vão perceber porquê, as variações melódicas e harmónicas são imensas e cada entrada tem que ser perfeita. E se há músicas perfeitas, algumas são de certeza dos Beach Boys.
Brilhante, e tudo sem auto-afinação.
Ficaram inspirados para levar as vossas vozes um pouco mais além nas vossas composições? Já sabem, no Salão Musical de Lisboa vão encontrar o microfone de que estão a precisar. Dêem-nos um lamiré.