Das palhetas às unhas: um guia rápido
O passatempo menos favorito de qualquer guitarrista é andar a pescar as palhetas que lhe caíram para dentro da guitarra. Por isso é que devem ter muitas à disposição, e de diferentes espessuras para estilos diferentes.
Mas nem todos os guitarristas sabem escolher a palheta mais adequada ao seu estilo, e muitos estão limitados tecnicamente por não terem a palheta certa para a música que fazem. Já experimentaram tocar riffs rápidos ou clássicos do punk com uma palheta fina de nylon? Ou tocar ritmo de baladas folk com palhetas de 2 milímetros em cordas de aço? Não soa bem e não é assim tão fácil de tocar pois não?
Este pequeno guia quer ajudar-vos a escolher a palheta certa para vocês.
Material
As palhetas podem ser feitas de vários materiais: nylon , celuloide, acrílico e outros tipos de plástico que vieram substituir - embora os imitem bem - alguns materiais tradicionais como casca de tartaruga, madeira, vidro e aço. As tartarugas não têm culpa das vossas ambições musicais, por isso não vamos roubar-lhes o telhado, ok?
Cada um destes materiais, ao passar pelas cordas dá um timbre diferente ao vosso instrumento. A sua flexibilidade também conta, devido à resistência dada pelas cordas, que será maior com uma palheta menos flexível.
Espessura
A espessura, combinada com o material, define a forma como vão tocar e o som que vão retirar da guitarra.
Extra-finas - são palhetas abaixo dos 0.45mm de espessura, e são usadas por guitarristas acústicos que não querem que se ouça a palheta a passar. São muito boas para ritmos em que se usam todas as cordas, péssimas para dedilhados, por dobrarem demasiado para serem precisas.
Finas - dos 0.46mm aos 0.70mm, são excelentes para ritmo em cordas de aço, com a possibilidade de dedilhados definidos, e não fazem grandes estragos para quem as usa em cordas de nylon. Se querem fazer solos de vez em quando, talvez tenham que subir para a categoria seguinte.
Médias - situadas entre os 0.71mm e os 0.84mm, são as palhetas mais comuns, porque servem um bocado para tudo. Talvez não sejam as mais agradáveis para tocar o ritmo de músicas de escuteiro, ou as melhores para fazer solos a abrir, mas permitem fazer um pouco das duas coisas. É a medida que deverão trazer sempre convosco no bolso de trás das calças, nunca se sabe quando é que a oportunidade se apresenta. E como estão sempre a mandá-las para a máquina de lavar com a roupa suja, é melhor ter um monte à disposição.
Pesadas - aqui a coisa fia mais grosso: dos 0.85mm aos 1.20m, estas são mais indicadas para quem toca guitarra elétrica, pelas características sonoras deste instrumento - amplificado, com técnicas diversas de ataque às cordas e uma necessidade de definição maior na sua sonoridade.
Extra-pesadas - das anteriores para cima. Quanto mais espessas são as palhetas, maior é o ataque que proporcionam, o que não quer dizer que as mais pesadas sejam só para música da pesada. Como permitem uma maior precisão e um som mais preciso, são muito utilizadas no jazz, onde se usam encordoamentos mais espessos também.
A categoria seguinte já entra no reino das palhetas de baixo. São grossas, dos 2 aos 3mm, porque as cordas também são mais grossas e normalmente dá-se uma nota de cada vez, com a maior limpidez e definição possível. Não tem que enganar, as escolhas ficam-se pelo formato e material preferido.
E um bom teste para palhetas de guitarra é usá-las num baixo, aí tiram as dúvidas todas sobre os níveis de resistência e som que podem retirar delas.
Formatos
Há palhetas com todas a formas, cores, desenhos, defeitos e feitios, mas a vossa é aquela que vos dará, para além do som que procuram, o maior conforto. Até podemos perceber o guitarrista pela palheta: se aparecer com uma triangular larga, a imitar casca de tartaruga, estamos perante um fã do folk e dos ritmos para cantar em conjunto; se a palheta for pequena, espessa com uma caveirinha, esperem ritmos rápidos e agressivos em duas cordas e riffs de acordar a vizinhança.
Para além da pinta, têm que ter em conta a aderência da palheta. Por isso é que devem experimentar umas poucas, no instrumento que vocês usam normalmente, e ver se a palheta se adequa ao que tocam. Até porque aquilo de ter mil palhetas nos tripés de microfone é giro mas não vale de nada se ela sai disparada dos vossos dedos a meio do solo. Já tentaram apanhar uma a meio de uma música? É mais fácil roubar laranjas na árvore do vizinho, a meio da noite, com os cães à solta e ele atrás de nós de caçadeira a dar tiros de sal. E menos divertido.
Se querem saber mais sobre as diferenças sobre palhetas, vejam este vídeo.
E as unhas?
As unhas são muito importantes, sejam as vossas ou as de plástico. Devido às características de alguns instrumentos, como a guitarra portuguesa, uma palheta não será a escolha indicada para retirar o som tradicional, que só se consegue com dedilhados.
Mas dedilhar em cordas duplas de aço é difícil, por isso existem unhas de plástico e outros materiais que ajudam a ter um som definido, sem terem que gastar fortunas regularmente em manicures e produtos de reforço da queratina.
E não servem só para guitarras portuguesas, muitos guitarristas que tocam géneros acústicos em cordas de aço, dobradas ou não, usam estes acessórios. Não é preciso mudar muito a vossa técnica, é só uma questão de adaptação.
O que interessa é que tenham muitas palhetas, com diferentes espessuras, tamanhos e formas, e sempre uma por perto. Imaginem que são os pincéis que necessitam para pintar a vossa obra prima, há sempre um para pormenores, e outro para encher paredes.
Seja à unha ou na palheta, visitem o Salão Musical de Lisboa e vejam que plectros temos para vocês.