As bandas e os seus nomes
Escolher o nome para uma banda não é fácil. Se alguns parecem perfeitos, há outros muito estranhos. Trent Reznor, dos Nine Inch Nails, disse que arranjar um nome é o cabo dos trabalhos:
“Não sei se alguma vez tentaram pensar num nome para uma banda, mas normalmente quando achamos que temos um bom, no dia seguinte parece-nos estúpido. Tive uns 200 assim. Nine Inch Nails (traduzido, Pregos de Nove Polegadas) durou as duas semanas de teste, ficava bem impresso, e podia ser abreviado facilmente (NIN). Não tem um sentido literal. Soa meio assustador. Duro e masculino. É uma praga encontrar um nome para uma banda.”
Mas todas as bandas têm um nome, e as fontes de inspiração são as mais variadas, desde piadas privadas como Goo Goo Dolls ou Butthole Surfers, a trocadilhos ou referências a partes da anatomia masculina, como Whitesnake, Tool, ou Throbbing Gristle.
Outros vão buscar o nome a algo que foi buscar o nome a outra coisa, como os B52´s, que referenciam o penteado baseado no bombardeiro americano, ou a algo icónico como os Bauhaus, que se inspiraram no movimento artístico alemão no início do século XX.
Se estão com dificuldades em definir o nome para a vossa banda, vejam como surgiram os nomes de algumas das mais conhecidas de todos os tempos e as suas fontes de inspiração, pode ser que sirvam de ajuda.
Nomes de bandas tirados de filmes e da televisão
Os Iron Maiden inspiraram-se na adaptação cinematográfica do romance de Alexandre Dumas, pai, “O Homem da Máscara de Ferro” (provavelmente a versão de 1939), onde figurava uma dama de ferro, um instrumento de tortura da Idade Média.
O cinema clássico também serviu de inspiração aos Black Sabbath, que foram buscar o nome ao filme de Mario Brava, com Boris Karloff, e que estava em exibição no cinema do outro lado da rua da sua sala de ensaios, em 1963. Ainda bem que não era o Pantera Cor-de-rosa, que estava nessa semana em cartaz, ou a história do heavy metal teria sido muito diferente.
Os White Zombie, também fãs do cinema de horror clássico, usaram o nome do filme de 1932, com Bela Lugosi. O que não surpreende para quem sabe que o líder Rob Zombie realiza filmes de terror quando não toca com a banda.
As séries de desenhos animados também parecem ter inspirado alguns artistas: os Fall Out Boy tiraram o nome de uma personagem secundaríssima dos Simpsons, e os Belle and Sebastian à lendária série infantil dos anos 80, talvez como forma de apelar à nostalgia do seu público alvo, que teriam visto essa série quando eram miúdos. Para quando uns Sponge Bob & The Squarepants?
Mais eruditos, os Godspeed You! Black Emperor foram buscar o nome ao documentário japonês de 1976 sobre um gang de motoqueiros, os Black Emperors. Os Black Rebel Motorcycle Club tiveram a mesma epifania ao ver o “The Wild One”, um filme em que Marlon Brando lidera um gang de motoqueiros chamado Black Rebel Motorcycle Club.
Os filmes de culto parecem ter influenciado algumas bandas: Alphaville é também o nome de um filme de Jean Luc Godard, e os !!! foram buscar o nome aos cliques que bosquímanos usam na sua língua, no filme “Os Deuses devem estar Loucos” e que eram representados por pontos de exclamação nas legendas.
Livros
Mas a malta realmente erudita parece preferir os livros, e quanto mais obscuros ou de culto, melhor. Os Joy Division lá acertaram à terceira com o nome, retirado da novela “House of Dolls”, escrita por Ka-tzetnik 135633, um escritor judeu que sobreviveu ao Holocausto e onde descreve as ‘divisões do prazer’, grupos de prisioneiras que eram obrigadas a prostituir-se com oficiais nazis. Não podíamos esperar música muito alegre destes moços...
Os Modest Mouse roubaram o nome a uma passagem de uma história da Virgínia Woolf, “The Mark on the Wall”, os Art of Noise ao título do manifesto do futurista italiano Luigi Russolo, os As I lay Dying ao romance com o mesmo nome de William Faulkner, e os Steely Dan intitularam-se após um estimulador sexual presente no “Naked Lunch” de William Burroughs, o que também explica muita coisa. Já os The Fall estavam mais absurdistas e usaram o livro de Albert Camus “A Queda” para batizar a banda.
Os Moloko foram buscar o nome ao calão para leite (milk) no “Laranja Mecânica” de Anthony Burgess, os The Doors ao famoso-por-ter-sido-a-inspiração-para-o-nome-da-banda “As portas da percepção” de Aldous Huxley, e os Steppenwolf inesperadamente a um livro de Herman Hesse de 1927, que seria a última aposta para o nome de uma banda que criou a melhor música de estrada de sempre.
Depois, há livros especiais, que deram o nome a imensas bandas por esse mundo fora. E não estamos a falar da Bíblia, mas do Dicionário. Exemplos notáveis são os REM, os Evanescence, os Commodores e os Ash, que estiveram muito perto de se chamar outra coisa menos apelativa. Os Incubus também recorreram ao dicionário nas vésperas de um concerto porque não tinham nome e lá ficaram com o “demónio em forma masculina que tem relações sexuais com mulheres adormecidas”. Não é correto, malta.
Sítios
Depois há bandas que se inspiraram nos sítios onde estão. A E Street Band chama-se assim porque era onde ficava a casa da mãe do pianista David Sancious, onde ensaiavam.
Já os Sleater-Kinney ensaiavam junto à Sleater Kinney Road, os Linkin Park ensaiavam junto a Lincoln Park, as All Saints escolheram o nome por ser a zona de Londres onde ficava o estúdio onde se conheceram (em Lisboa seria Santos). Os Bush, por serem de Shepherd’s Bush, decidiram não se chamar Shepherd’s.
Os Orbital escolheram o nome não só pela dimensão espacial da palavra, mas também por ser à volta da M25 (a circular externa de Londres à volta da qual se realizavam as raves ilegais e que tem o cognome de… Orbital).
Os metaleiros Children of Bodom foram buscar o nome a um episódio sangrento que se passou no Lago Bodom, e que não contamos aqui por ser demasiado pesado.
A mais original será a escolha dos Everything but the Girl, que enquanto bebiam uma pint num pub em Hull, viram na fachada de uma antiga loja de mobiliário o final do seu slogan, que completo seria algo como “Vendemos tudo menos a rapariga”, que presumimos que seria a da caixa.
Outras bandas
Mas algumas bandas também se inspiraram no trabalho de outras bandas para escolher os seus nomes.
Os Radiohead escolheram assim de cabeça o nome a partir de uma música dos Talking Heads, depois da editora se recusar editar uma banda cujo nome era o dia em que se encontravam para ensaiar (mais precisamente, às sextas).
Os Nazareth foram buscar o nome não à Bíblia mas ao segundo verso do “The Weight” dos The Band, que também não se referia à cidade da Palestina. Os Rolling Stones usaram o nome de uma música de uma das suas grandes influências, Muddy Waters, cujo próprio nome tem origem numa alcunha de criança.
Outras bandas que foram buscar o seu nome a músicas de outras bandas: Os Pretenders eram fãs dos Platters (“The Great Pretender”), e os Panic! At the Disco pegaram numa música dos Smiths, “Panic”, que se devia passar numa discoteca. Ladytron é a segunda faixa do primeiro disco dos Roxy Music e The Sisters of Mercy é uma canção de Leonard Cohen sobre uma noite com duas prostitutas.
E podíamos fazer o jogo de ligar os nomes de umas bandas às outras mas não temos tempo e o artigo já vai longo.
Como podem ver, as fontes de inspiração são imensas e nem falámos aqui de sonhos nem de experiências do oculto, ou outras origens de ideias menos convencionais. Ainda nada? Bem, podem sempre usar um gerador de nomes de bandas online e ver o que sai. “Twilight of the Bass Gods” não nos parece nada mau...
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