Uma rapsódia sobre o clarinete
O clarinete é um instrumento de sopro relativamente recente na família das madeiras. Nasce no final do século XVII a partir de uma adaptação de outro instrumento chamado chalumeau, pela mão de Johann Christoph Denner, e chegou à sua forma actual com a introdução do sistema de chaves de Boehm.
Na sua forma moderna, o clarinete é composto normalmente por cinco partes: a boquilha e o barrilete, que definem a entonação, o corpo superior e o corpo inferior onde estão colocadas as chaves, e a campânula, que amplifica o som.
A família dos clarinetes varia em tons e dimensão, começando na requinta, a versão mais aguda e chegando ao pouco usual clarinete contrabaixo, muito mais agudo.
O timbre do clarinete, muito próximo da voz humana, e a sua extensão melódica, fizeram com que se tornasse um instrumento de eleição para alguns compositores como Mozart, que apreciavam a sua agilidade e adaptação fácil a vários registros. Carl Maria von Weber também era um apreciador, tendo composto alguns dos seus melhores concertos para este instrumento.
O clarinete é fundamental para a música romântica e moderna pela sua versatilidade, com obras importantes a serem-lhe dedicadas por compositores como Debussy, Poulenc ou Bartok, mas é no início do século XX, em Nova Orleães que encontra o seu espaço como instrumento central na música popular, com as bandas de swing e de jazz. Até aos anos 40, algumas das maiores estrelas do swing eram clarinetistas: Artie Shaw, Woody Herman e Benny Goodman, que podemos ver aqui em acção com o génio da bateria, Gene Krupa, num filme de 1937.
Depois da era dourada do swing, o clarinete caiu em desuso, mas o interesse pela música tradicional dos Balcãs colocou-o outra vez na ribalta, muito por culpa de Goran Bregovic e o seu trabalho para os filmes de Emir Kusturica, que sempre arranjava maneira de ter uma banda pendurada algures no cenário. A sua presença na música tradicional vai desde a de inspiração romani à música grega e turca, passando pela Bulgária e Albânia.
Como instrumento que junta o melhor da tradição clássica com a modernidade do jazz e o cariz popular, é natural que algumas das melhores obras musicais do último século tenham um clarinete a dar o tema. Uma das mais importantes é a Rhapsody in Blue, de Gershwin, onde o glissando em duas oitavas e meia do clarinete é um dos mais icónicos e belos momentos da história da Música.
Segundo a lenda, começou como uma piada do virtuoso clarinetista de Gershwin, que decidiu tocar a abertura daquela forma, em vez de nota por nota, como estava na pauta. Gershwin pediu para exagerar ainda mais e, na noite de estreia, o efeito sobre a plateia foi hipnótico e continua a deixar-nos em transe desde então.
Como podem ver e ouvir, o clarinete é um dos mais expressivos e versáteis instrumentos de sopro. Hoje em dia encontramos clarinetes principalmente em orquestras e bandas filarmónicas, mas tem o seu espaço também na música de câmara, onde um quarteto de cordas com um clarinete passa a ser um quinteto de clarinete. Só para mostrar quem manda.
Os clarinetes já não são os instrumentos caros que eram. Graças a novos materiais que mantêm a qualidade sonora natural deste instrumento, como a ebonite, tornou-se uma opção aliciante para instrumentistas que já tocavam outros instrumentos de sopro e que agora podem alargar os seus horizontes técnicos e musicais.
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