Grandes guitarristas de fado
O fado é a expressão musical da voz nacional, mas a alma não está só em quem canta. A guitarra portuguesa foi o veículo que transportou nas asas dos seus trinados e melodias o espírito de um povo, que sobre ela e nela materializou as suas tristezas e alegrias.
Os guitarristas de fado são ao mesmo tempo suporte e intérpretes, fluindo da melodia estabelecida para o improviso imposto pelo sentimento. E mestres tivemos muitos. VAmos destacar alguns dos que mais influenciaram os que vieram a seguir e levaram a guitarra e fado mais além.
Esta escolha não é um top, mas uma selecção. Se quiserem contribuir com mais nomes - antigos e atuais - deixem as vossas sugestões na caixa de comentários.
Armandinho
Nascido em 1891, Armando Augusto Salgado Freire nasceu em Lisboa para mudar o papel do guitarrista no Fado. Começou no bandolim mas com apenas 10 anos interessa-se pela guitarra portuguesa e rapidamente começa a actuar e a ganhar notoriedade com instrumentista, apesar de manter várias profissões ao longo da vida.
Foi dos primeiros a realizar digressões artísticas fora do país e, com um grupo de fadistas onde estava também Ercília Costa, levou o sentir português à guitarra pelo mundo fora. Teve uma carreira muito preenchida e pioneira, beneficiando dos novos sistemas de gravação que permitiam fixar para a eternidade a sua música.
A sua forma de abordar o fado trouxe a guitarra para o diálogo com o cantor, em vez de se ficar pelo mero acompanhamento, como se fazia até então.
José Luís Nobre Costa
Nascido em 1948, inicia-se na guitarra aos 15 anos e nunca mais a largou, alimentado pelo fascínio que nasceu das transmissões de Fado da Emissora Nacional. Aos 21 anos profissionaliza-se e passa a acompanhar o fadista João Braga. Colaborou e acompanhou com grandes nomes da canção portuguesa, numa carreira notável.
O respeito dos seus pares levou a que se tornasse docente na Escola do Museu do Fado, onde ensinou e influenciou uma nova geração de músicos. Faleceu em 2014, mas o seu legado como músico que acompanhou os maiores nomes do Fado pelo mundo inteiro e como divulgador é fundamental para a história do fado português.
José Fontes Rocha
Um dos mais inspiradores guitarristas portugueses, Fontes Rocha começou no violino mas depressa se dedicou à guitarra portuguesa, de ouvido e por conta própria, por influência do pai. Destacou-se por ser a melodia que estava a par da voz de Amália Rodrigues, com quem tocou durante décadas e levou com ela o Fado para os palcos do mundo inteiro.
As suas gravações com a Rainha do Fado são lendárias, e Fontes Rocha é também reconhecido como compositor e intérprete de alguns temas fundamentais do repertório nacional. Uma das suas maiores qualidades era perceber o Fado como uma junção entre a poesia e a música, a voz e as guitarras, não como elementos estáticos mas como um conjunto. E assim com ele o Fado ganhou uma outra dimensão.
António Chaínho
Um dos nomes fundamentais da guitarra portuguesa contemporânea é António Chaínho. Autodidata, foi também influenciado pelos programas de rádio dedicados ao Fado, da Emissora Nacional, onde ouvia José Nunes, Raul Nery e Jaime Santos.
Nascido em 1938, em Santiago do Cacém, cresceu a ouvir fado na tasca dos pais: a mãe cantava e o pai acompanhava à guitarra, atraindo os amantes do fado das aldeias em redor. Foi com o pai que deu deu os primeiros passos na aprendizagem da guitarra.
Durante uma temporada como militar em Moçambique, o seu talento foi notado e destacado para acompanhar os fadistas em digressão naquela área. Quando regressa a Portugal profissionaliza-se, e fixa-se n’A Severa como guitarrista residente.
António Chaínho ao longo da sua carreira abriu a sua guitarra e o Fado a outras expressões musicais, aumentando as suas possibilidades expressivas e o reconhecimento internacional do seu trabalho e da tradição portuguesa.
Carlos Paredes
A música de Carlos Paredes não é de Portugal, é do Mundo. A contribuição que fez para o Fado e para a Música é incalculável, e é um nome fundamental para qualquer melómano. Carlos Paredes nasceu em Coimbra, em 1925, numa família onde a guitarra e a música estavam muito presentes. Começa aos 9 anos a tocar com o pai, Artur Paredes, e aos 14 estreia-se com ele aos microfones da Emissora Nacional, num programa semanal. Já a viver em Lisboa, tem formação musical formal, aprendendo piano e violino.
Talvez por se estar a viver um período de renovação social e politica em Portugal, com intervenção de cantores como José Afonso, Carlos Paredes também procurou renovar a sonoridade da guitarra portuguesa, recolhendo inspiração nas novas dinâmicas mas entrelaçando-as com a sonoridade do fado de Coimbra e a tradição popular. Talvez seja por isso que não há português que não se emocione a ouvir os Verdes Anos.
Paredes foi reconhecido em vida pelo seu papel como músico, mas também como ativista político numa fase crucial da História portuguesa. A sua obra extensa é dos legados mais ricos que qualquer músico alguma vez nos deixou.
Muita desta informação foi recolhida no site do Museu do Fado, que é um óptimo ponto de partida para quem quer conhecer mais sobre a canção nacional.
Se o fascínio pela guitarra portuguesa vos contagiou, visitem o Salão Musical de Lisboa, onde temos as melhores guitarras feitas pelos melhores construtores nacionais.