Salão Musical de Lisboa Loja de instrumentos musicais desde 1958
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Como gravar um piano

Publicado por2019-03-25 por 7550
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Neste artigo vamos enveredar pela culinária, e dar-vos uma receita básica, com algumas variações, sobre como fazer um registo sonoro de um instrumento tão complexo como o piano.

Querem gravar um piano e não sabem como? Capturar a sua essência sonora e a interpretação de um músico tem tanto de arte como de ciência. Neste artigo vamos enveredar pela culinária, e dar-vos uma receita básica, com algumas variações, sobre como  fazer um registo sonoro de um instrumento tão complexo como o piano.

Ingredientes

  • um piano, com o respectivo pianista;

  • música;

  • microfones;

  • tripés;

  • uma sala;

Como alguém uma vez disse, as gravações não se fazem com microfones, mas com os ouvidos. Recomendamos pelo menos dois, bem limpos.

Mesmo os ingredientes podem ter variações que afetam o resultado final. O piano é de cauda ou vertical? A sala é um auditório vazio, cheio, ou uma divisão pequena? Existe ruído de fundo? É a solo ou em conjunto?  As indicações que vamos dar poderão ter de ser adaptadas às especificidades de cada situação.

Antes de começarem a colocar tripés e a puxar cabos, perguntem-se: qual é o vosso objectivo? É um registro profissional, ou apenas um apontamento? Qual é o grau de fidelidade que realisticamente conseguem obter? Uma gravação razoável serve perfeitamente uma óptima interpretação, uma de alta fidelidade é inútil para uma má execução.  É preciso mesmo gravar com microfones ou basta um gravador digital em cima do piano? Ou dentro dele?

Preparação

O centro da vossa gravação não é o piano. Nem o pianista. Esta não é uma daquelas filosofias orientais vindas de Hollywood da cartilha do Mestre Miyagi. O que vão gravar é a música, executada por alguém com as suas idiossincrasias pessoais e técnicas, num instrumento musical que produz o som.

O primeiro passo é ouvir o que vai ser gravado. Não interessa se gostam ou não, o que importa é que entendam as dinâmicas: volume, expressão, que frequências são mais importantes.

Falem com quem conhece a música de trás para a frente, ou seja, o pianista, para conhecerem todas as sequências, secções e nuances da peça. Vejam como toca, qual é o espírito geral, o que querem transmitir a quem ouvir a gravação.

Ainda sem tirar os microfones do estojo, ouçam a sala. Passeiem por ela enquanto ouvem a música de novo. Descubram o ponto certo para colocar os microfones. Se soar bem ao ouvido vai soar bem ao microfone.

Os microfones podem ser de qualquer tipo, mas recomendamos cardióides de condensador. O seu padrão de captação é ideal para um instrumento com tanta largura como o piano, ao mesmo tempo que minimiza ruídos que estejam fora do seu raio de acção. A sua sensibilidade é ideal para captar pormenores e tirar partido das variações de dinâmica.  

Num piano de cauda, podem colocar o microfone mesmo por cima das cordas, desde que as frequências não estejam demasiado misturado. Regulem a altura do tripé para ficar à distância correta das cordas. Se quiserem ter algum batimento dos martelos, coloquem o microfone mais perto deles.

Se quiserem ter um pouco de martelos sem perder toda a riqueza tímbrica, usem dois microfones, posicionados acima das cordas. Não se esqueçam, seguindo a regra dos 3:1, a distância entre microfones deve ser três vezes a distância a que estão das cordas.

A AudioTechnica, umas das marcas do Salão Musical de Lisboa, mostra algumas técnicas básicas para gravar um piano de cauda.

Num piano vertical, podem colocar o microfone acima do teclado, mas terão um som muito mais rico se o colocarem à frente do painel posterior, onde estão as cordas. Mais para a esquerda ou para a direita, depende muito da peça e das notas em acção.

Este vídeo explora algumas formas de o fazer.

Em caso de dúvida, escolham um ponto neutro que capte o máximo de piano, e o mínimo de ruído externo. Ou não.

Há gravações incríveis em que podemos ouvir os músicos a respirar, a entoar as notas enquanto tocam, a bater com o pé, no chão, o banco a ranger de tanto se mexerem na emoção de uma passagem. É convosco. Como dissemos, o que estão a gravar não é um instrumento, mas uma música em princípio e uma actuação, no fundo.  

O Errol Garner era costumeiro em “vocalizações involuntárias”, como podem ouvir mais abaixo. É algo muito comum entre pianistas de jazz, mas mais raro entre os clássicos, apesar de haver quem o faça, como o Glenn Gould. Roland Barthes adorava estes pormenores que davam uma dimensão orgânica à espiritualidade da música, os quais definiu como “genocanção” (em inglês, genosong).

A vossa função é captar tanto o elemento físico como o espírito da execução. As técnicas ajudam, mas os ouvidos é que decidem.

No Salão Musical de Lisboa não vendemos ouvidos (ainda), mas temos tudo o que precisam para começarem a gravar pianos: temos os pianos em si (restantes notas incluídas), os microfones e os tripés que os seguram.

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