Salão Musical de Lisboa Loja de instrumentos musicais desde 1958
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Uma breve história das Tunas

Publicado por2019-09-24 por 10502
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Nas cidades com universidade é comum haver capas negras em festa pelas ruas e grupos de estudantes a cantar baladas e serenatas

Nas cidades com universidade é comum haver capas negras em festa pelas ruas e grupos de estudantes a cantar baladas e serenatas a quem passa ou sob janelas de raparigas, de noite e de dia, o ano inteiro. As tunas são omnipresentes na vida e tradições académicas e nas cidades que habitam.

Mas como nasceram as tunas e os seus hábitos e porque tocam os instrumentos que tocam? Venham connosco numa breve viagem pela história destes agrupamentos que fazem parte da vida de muitos estudantes e que definem, para muitos, a essência da vida académica para além das salas de aula. Uma coisa vos podemos dizer já: não são uma tradição tão antiga como pensam.

A vida boémia dos estudantes

Não é de agora que os estudantes gostam de música, de poesia e de vinho e, principalmente, de se embriagar com eles, no companheirismo de tascas e de casas partilhadas. O hábito de cantar e tocar em grupo sempre existiu em todas as comunidades e ganhou uma maior expressão nos espíritos impressionáveis e em busca de mundo dos jovens universitários.

Desde que há universidades que há estudantes boémios, que percorriam as ruas em alegre folia musical (“correr a tuna”), mas a primeira tuna digna desse nome, com hierarquia, regras e organização própria surge em 1876, com a Tuna Universitária de Compostela.

O fenómeno é completamente ibérico e nascido do lado espanhol, e passa para o lado de cá da fronteira quando os estudantes compostelanos visitam Portugal e apadrinham a criação da Tuna da Universidade de Coimbra em 1888. Nas décadas seguintes, surgem tunas em diversas Universidades da Península, algumas com tanta popularidade que ultrapassam os limites continentais e vão actuar na América do Sul, lançando as sementes para novos conjuntos por terras latino americanas.

O que define uma Tuna

O conceito de tuna evoluiu ao longo das décadas mas, em Portugal, cristalizou-se nos anos 80 como um conjunto musical composto por estudantes universitários, vestidos a rigor com as vestes tradicionais da sua alma mater, com identidade, organização, regras e hierarquias próprias.

Como as tunas eram originalmente conjuntos musicais itinerantes, os cordofones são o tipo de instrumentos mais comuns, por serem práticos de transportar e fáceis de aprender, até porque que muitos estudantes aprenderam música na tuna em que ingressaram, o que lhes dá ainda maior importância e valor.

Nos cordofones usados pelas tunas podemos encontrar guitarras clássicas, bandolins, cavaquinhos, contrabaixo ou baixo acústico, violinos e violas.

As tunas têm ainda no seu arsenal instrumentos de percussão como o bombo e a pandeireta, e algumas incorporam acordeãos, flautas e outros instrumentos menos previsíveis mas que fazem parte dos recursos musicais dos seus elementos, sendo possível ver saxofones e outros instrumentos menos tradicionais nos seus naipes.

As tunas em Portugal adotaram muitas das características das tunas espanholas, como “a postura de pé, o bailar do estandarte e das pandeiretas, os símbolos nas capas”, que lhes dão aquela presença e animação tão próprias destes conjuntos.

Mas porquê o nome “tuna”? Os especialistas não chegam a conclusões definitivas. Existe uma versão da história das tunas que romantiza as suas origens e percurso mas, de acordo com o maior estudo académico sobre a história destes agrupamentos (“QVID TUNAE - A Tuna Estudantil em Portugal”), as tunas chamam-se assim por causa dos "thunes", albergues para mendigos que, provavelmente, abrigavam os estudantes mais pobres nas suas digressões musicais pelas cidades onde actuavam. Mas há mais possibilidades para a origem do nome, assim como outros pormenores sobre estes grupos, que podem e devem descobrir nesse trabalho de investigação.

As tunas modernas

Nascidas da energia e poesia dos jovens estudantes do século XIX, as tunas em Portugal eram só realmente duas até aos 80 do século passado, a da Universidade de Coimbra e a da Universidade do Porto. Com o crescimento no número de estudantes do ensino superior e de universidades nacionais, as tunas multiplicaram-se por todo o país, o que faz com que, na realidade, as tunas portuguesas sejam ainda um fenómeno bastante recente.

Os festivais de tunas multiplicaram-se e há eventos de alta qualidade que juntam grupos ibéricos e da América do Sul, e já alguns de outras origens europeias que também começaram a incorporar esta tradição nas suas. 

A vossa tuna precisa de renovar guitarras e não só? Temos instrumentos resistentes e acessíveis, que sobrevivem à vida exigente das tunas.

Visitem-nos e soltem um eferreá. Se vão estudar para fora e querem ter instrumentos de qualidade para tocar e praticar, vejam o que o Salão Musical de Lisboa tem no catálogo para vocês.

1 Comentar
  • Je********* ***va

    Je********* ***va 2019-10-22

    Caros amigos,

    O fenómeno das tunas deriva das estudiantinas carnavalescas iniciadas no foro popular, em Espanha, nas primeiras décadas do séc. XIX.
    Mais tarde, os estudantes, que se via parodiados nessas "estudiantinas", acharam boa ideia também participar e criar as suas estudiantinas.
    Não foi com a vinda de tunas em 1888 que o fenómeno se inicia em Portugal. Há estudantinas em Portugal desde meados do séc. XIX. Foi a Estudiantina Fígaro que, em 1878, espalha por Portugal e pelo mundo a "estudiantinomania". O que 1888 marca é o início da institucionalização das tunas portuguesas (mas as tunas já existiam antes em Portugal).
    A Tuna de Compostela não data de 1876. Nessa época o que havia eram estudiantinas que se formavam para o carnaval e logo depois desapareciam. Eram sazonais.
    A origem da palavra "Tuna" é a que referem, mas foi a partir da década de 1870 que, desejando os estudantes espanhóis diferenciar as suas estudiantinas das compostas por populares, que é reabilitada a palavra Tuna (que não era exclusiva do foro académico) para designar as formações estudantis. Um processo que, em Portugal, não teve sucesso, pois rapidamente os grupso populares adoptaram também essa designação para os seus grupos de plectro.
    Thunes era albergue de mendigos, mas não de estudantes. A evolução linguística do termo vai dar "tuna", que significa esmola e o famoso "correr la tuna" que significa procurar sustento, tendo-se destacado os estudantes pobres que, por possuírem mais formação e dotes diversos (e não apenas musicais) se tornaram iconográficos desse modo de vida (a que outros adeririam apenas pelo gosto da vida aventureira e licenciosa).

    Ficam os reparos ao texto.

    Melhores cumprimentos.

    Jean-Pierre Silva (co-autor de QVID TVNAE)
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