Instrumentos populares por região - 1
Para um país com uma área territorial tão reduzida, podemos dizer que o folclore de Portugal é muito rico e variado, com tradições e sonoridades distintas num curto espaço de quilómetros. É verdade que existem instrumentos que se vão metamorfoseando em diferentes versões e afinações por esse país fora, mas cada um reflete os espíritos e os estilos de cada região.
Vamos conhecer, numa série curta de artigos, as várias regiões e os seus instrumentos tradicionais, com alguns bem conhecidos e outros que nem por isso. É uma viagem à música e aos sons que marcaram comunidades ao longo das gerações e que, infelizmente em alguns casos, começam a desaparecer. Mas estamos aqui para reavivar e celebrar a sua música e a contar convosco para que o façam também.
Leiam os artigos dedicados aos instrumentos musicais tradicionais da zona Centro e do sul e das ilhas de Portugal.
Instrumentos musicais tradicionais do Minho
As gentes minhotas têm tanto uma tradição de mar como de terra. A sua música é viva e colorida com rusgas e chulas a dar o mote aos arraiais e rogas a animar o duro trabalho da vindima. É uma região em que a música serve para celebrar a vida e expressar a forma de estar na vida das gentes minhotas. E para encantar as raparigas.
Nos instrumentos tradicionais típicos desta região temos alguns cordofones bem conhecidos como as violas braguesa e a amarantina, e também podemos ver por aqui esse híbrido que é o banjolim.
Não há festa sem bombo e outros instrumentos de percussão como os ferrinhos e as castanholas. As concertinas costumam também dar um ar da sua graça, assim como o acordeão.
Mas o mais popular instrumento minhoto é o cavaquinho, que é tão fácil de tocar e portátil que emigrou para o outro lado do mundo e voltou como ukulele. A prova de que o que é tradicional para uns é moderno para outros.
Instrumentos musicais tradicionais de Trás-os-Montes
O isolamento e a paisagem ondulada de Trás-os-Montes convidam à reflexão e a uma certa solenidade daquelas gentes que lá mandam para trás do Marão. O Reino Maravilhoso, como Miguel Torga lhe chamou e descreveu como “um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição” é uma região sujeita a extremos e isolada. Por isso, a sua tradição musical tem tanto de sonora como de dramática.
Dos cantos transmontanos aos gaiteiros, a música de Trás-os-Montes tem um toque distinto na tradição musical nacional, com instrumentos como a sanfona, a gaita-de-foles mirandesa, as caixas, os tambores e os bombos, e também a flauta. Música de pedras e de espaços que os Galandum Galundaina têm feito por preservar e apresentar.
Instrumentos musicais tradicionais do Douro Litoral
As cidades marcam a diferença para as outras regiões, influenciando o estilo de vida dos habitantes desta zona que, apesar de ter ocasionalmente a ruralidade a entrar pela urbe adentro, tem ainda o mar, que traz um outro conjunto de tradições e hábitos distintos. E dramas.
Pelas tabernas e tascas da cidade ouvia-se a guitarra portuguesa do Porto, a mais pequena das guitarras portuguesas e afinada como a de Lisboa, mas com um dragão no topo. Fora dos centros urbanos a chula domina ao som de rabecas, violas de arame como a amarantina, harmónica e outros instrumentos partilhados com a tradição do vizinho Minho. Afinal existem menos acidentes geográficos entre as regiões e é mais fácil partilhar a música entre elas. Há também outros géneros bem conhecidos a fazer mexer estas gentes como o irresistível malhão, o vira e a cana-verde.
Chulada da Ponte Velha - "Ramaldeira da Reguenga" from MPAGDP on Vimeo.
Instrumentos musicais tradicionais da Beira Alta
Esta região que engloba os distritos de Viseu e da Guarda - ali tão juntinhos no coração frio de Portugal mas com tanta distância colocada pelo relevo entre eles - tem uma longa tradição nos cantares de grupo. São comuns os grupos corais e os colectivos musicais com muita gente, talvez para aquecer a alma com espírito comunitário nos meses frios de inverno.
Grupo de Cantares da Associação Paredes Velhas - "Cantarinha de barro" from MPAGDP on Vimeo.
Os instrumentos tradicionais desta zona são instrumentos que facilmente são levados para o campo e para o pastoreio, como a flauta travessa ou o pífaro, os muito portáteis instrumentos de tuna como bandolins, cavaquinhos e violas, e os tambores.
Mas há muito mais música tradicional para explorar em cada uma destas regiões. Como podem ver, alguns destes vídeos são do fantástico projecto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, um recurso inestimável para quem quer conhecer os sons e tradições da sua comunidade e de outras regiões, que vale a pena explorar.
Na próxima edição dedicada aos instrumentos populares de cada região vamos visitar a Beira Litoral, a Beira Baixa, o Ribatejo e a Estremadura. Entretanto, sigam as ligações nos instrumentos assinalados neste artigo e visitem a nossa loja online. Nunca é tarde para recuperar e viver a música tradicional da vossa região.