Afinação: do diapasão ao afinador digital
Foto: Shaylor
Antes sequer de dar a primeira nota, é preciso estar afinado. Mas a afinação nem sempre foi a mesma, evoluindo como uma convenção para que um conjunto de músicos pudesse estar em harmonia.
Vamos conhecer o que é a afinação, e que ferramentas os músicos têm usado para se manter na mesma frequência. De notar que esta é uma perspectiva ocidental, já que outras culturas têm uma aproximação completamente diferente a este assunto.
Afinação e temperamento
A afinação define um ponto de referência a partir do qual se estabelece toda a estrutura melódica e harmónica da música: tons, intervalos, escalas, acordes. É, fundamentalmente, uma questão de frequência. Neste caso, a frequência da vibração da onda sonora de uma nota.
Quando dizemos Lá4 estamos a assumir uma convenção que define a onda sonora que vibra a 440Hz como a nona nota acima do Dó médio, a nota dada pela tecla que fica mesmo a meio de um teclado de piano. Se vibrar a 880Hz, é um Lá5, ou seja, a mesma nota uma oitava acima.
A relação matemática de diferentes frequências e os resultados musicais que se obtêm a partir da combinação entre elas levaram a que se criasse um sistema de sete notas naturais, a chamada escala diatónica, que é a base da música ocidental.
Entramos na afinação como um sistema de relações entre diversas frequências ou notas, aquilo que se chama de temperamento.
Música é Física e Matemática, para além de Arte. As definições de frequência de cada nota são resultado de uma série de cálculos matemáticos que vêm desde a Grécia Antiga e que têm evoluído de tal forma que a relação entre as notas tem também variado ao longo dos séculos.E, por vezes, as ciências não ajudam o ouvido. Uma divisão matemática harmoniosa nem sempre dá um resultado musicalmente harmonioso.
Pitágoras, o mesmo do Teorema, criou um sistema baseado na proporção de 3:2. Para os que não apreciam Matemática, é a relação que faz com que duas notas vibrem harmoniosamente num intervalo de 5ª perfeita. Mas há mais vida pelo meio dessas notas e, para acomodar outras frequências, foi preciso ver novas relações e intervalos que nem sempre a matemática exacta tornava musicais.
Resumindo, porque este é um tema vasto e mais controverso do que imaginam, existiram temperamentos para todos os temperamentos ao longo dos séculos, até ficarmos com o Temperamento Igual, a convenção sobre a qual assenta a música moderna.
Aqui fica uma explicação rápida sobre o que é o temperamento e a sua evolução.
A referência da orquestra
É tão importante ter cada instrumento afinado como que todos os instrumentos estejam afinados entre si. Para que a música seja uma experiência agradável e não um acto de tortura, foi necessário criar ferramentas para dar essa referência por onde todos os músicos se pudessem afinar.
Na orquestra, o oboé assumiu o papel de ser a referência para a secção de cordas que desafinam facilmente. Como explicámos no artigo dedicado ao oboé, há duas escolas de pensamento sobre como surgiu esta responsabilidade:
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uma defende que o oboé é a referência devido à sua estabilidade, e o Lá sai na frequência certa (440Hz ou 442Hz). Além disso, está em orquestras há tanto tempo que mantém algum estatuto de antiguidade, logo, deve ser a referência;
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outra, defende que, por causa de o instrumento ser em madeira e a sua afinação variar de acordo com as condições de humidade e temperatura, mais valia afinarem todos por ele para não soar mal,e a tradição manteve-se.
Em 1711, pela mesma altura em que o oboé estava a dar o tom nas orquestras, um trompetista que atuava com o compositor Georg Friedrich Haendel criou um objeto muito estranho, mas terrivelmente prático, para afinar instrumentos musicais.
Diapasão
John Shore foi um trompetista inglês que convenceu Haendel e o mundo que o trompete servia para mais do que anunciar alvoradas e cargas de infantaria e cavalaria em combate. Para além de ter dado uma outra vida a este instrumento fascinante e muito versátil, Shore criou um garfo metálico que, quando percutido, produz uma vibração estável.
Como a referência de compromisso são os 440Hz, os diapasões mais comuns que podem encontrar à venda têm essa frequência.
Vejam Diapasões no Salão Musical
Lamirés
Outra ferramenta muito útil até para familiarizar o ouvido com as diversas notas é o lamiré. Tão portátil como o diapasão, o lamiré é um dispositivo ativado por sopro muito usado para criar um som de referência para instrumentos de cordas, particularmente guitarras.
Por exemplo, o lamiré Johnson produz as 6 notas da afinação padrão da guitarra quando se sopra nos diferentes tubos.
Afinadores digitais
Se tocam instrumentos amplificados, é fundamental que tenham um afinador digital. São extremamente precisos e muito práticos, e alguns até acumulam outras funções. Muitos afinadores digitais permitem ajustar a frequência base, e alguns até disponibilizam diferentes temperamentos para músicos interessados no assunto.
Os primeiros afinadores eletrónicos surgiram em 1938 e eram estroboscópicos. Com o tempo, e a diminuição do tamanho dos componentes, tornaram-se ainda mais poderosos e portáteis.
Os mais simples são os clip on, que podem ser colocados na cabeça do baixo ou da guitarra e usam as vibrações do instrumento para detectar as notas. Física, outra vez. Como são retroiluminados, são espectaculares para usar em condições de baixa luminosidade.
Afinador Leon LT33 Cromático Clip On
Os afinadores cromáticos digitais costumam ter mais funcionalidades como a de metrónomo. São compactos, portáteis e muito precisos.
Afinador Metrónomo Korg TM 60
Para guitarristas que gostam de ter controlo sobre o seu setup, um pedal afinador é uma excelente opção, especialmente se permitir fazer um bypass, ou seja, afinar o instrumento sem que este se ouça, apenas com um toque no pedal.
Um dos pedais afinadores mais populares é o TU-3W da BOSS que oferece um sinal puro em "true-bypass" com a maior transparência possível na passagem do sinal áudio.
Boss TU 3W Waza Floor Tuner
Toquem sozinhos ou acompanhados, toquem afinados. Seja qual for a vossa frequência, uma afinação correcta é a base para uma boa actuação.