A poesia de Florbela Espanca em música
Florbela Espanca é uma das mais queridas poetisas portuguesas. A sua obra é tumultuosa, emocional e muito elegante na escolha das palavras, das imagens e dos ritmos. Por isso, não é de admirar que muitos dos seus poemas tenham sido musicados.
Vamos conhecer algumas das músicas que usam as palavras de Florbela Espanca e, no final, saber quem foi esta mulher muito especial que inspirou gerações de poetas, músicos, artistas, e não só.
Músicas com poemas de Florbela Espanca
Fanatismo
Perdidamente (Ser Poeta)
Amar
Vários Sonetos
Florbela Espanca no fado
Caravelas - Mariza
Meu Amor - Cristina de Sousa
Fumo - Débora Rodrigues
Eu - Ana Laíns
Quem foi Florbela Espanca?
Músicas com poemas de Florbela Espanca
Fanatismo
Em 1981, o brasileiro Fagner musicou o poema Fanatismo para abrir o seu disco Traduzir-se. Segundo um trabalho académico muito interessante, Fagner encontrou-se por acaso com a poesia de Florbela Espanca e foi amor à primeira vista:
“A criação da música para o poema, no ano de 1981, deu-se em Portugal da seguinte maneira: Fausto Nilo, hospedado no mesmo hotel que Fagner em Lisboa, conta que um dia, por sugestão de um professor do Ceará, compraram um livro de Florbela Espanca, poeta perseguida e censurada pelas décadas da ditadura salazarista. Fagner pegou o livro e, uma hora depois, violão em punho, já estava musicando um poema da autora: “Minha alma de sonhar-te anda perdida…””
Esta canção teve um enorme impacto na música popular brasileira e na carreira de Fagner, tendo sido um dos seus grandes sucessos. Mais tarde, Fagner compôs música para outro poema de Florbela Espanca, Fumo.
Perdidamente (Ser Poeta)
A canção mais conhecida que usa um poema de Florbela Espanca é este clássico dos Trovante. Lançada em 1987, é um dos temas mais populares dessa década e um marco na obra da banda. A música é de João Gil e não precisa de apresentações.
Amar
Em 2001, a cantora brasileira Nicole Borger marcou encontro com a poesia de Florbela Espanca com o seu primeiro álbum Amar. Borger musicou sonetos de diversas fases da poetisa, em diferentes estilos musicais.
Vários Sonetos
A artista portuguesa Senhora Dona Morte lançou em 2013 um disco com sonetos da poetisa intitulado Florbela. São 18 faixas em que a artista recita as palavras de Florbela Espanca por cima de música. É uma introdução rápida à obra densa e sentida da poetisa, que vale a pena explorar.
Florbela Espanca no fado
Um dos poemas mais famosos de Florbela Espanca é O Fado. Naturalmente, pela sua força lírica e musicalidade intrínseca dos seus poemas, a obra de Florbela Espanca é uma fonte de inspiração para os fadistas nacionais.
Caravelas - Mariza
Mariza canta no seu disco Fado Curvo, de 2003, este Caravelas. Mais tarde cantou também Desejos Vãos.
Pelos 125 anos do nascimento da poetisa, a editora Seven Muses lançou um livro / disco dedicado à obra de Florbela Espanca, com a participação de algumas das cantoras mais importantes do fado moderno português.
Florbela Espanca - O Fado
São 18 faixas, grande parte delas gravações inéditas feitas exclusivamente para esta edição. Entre as fadistas convidadas estão Cuca Roseta, Katia Guerreiro, Mísia, Simone de Oliveira e muitas outras novas vozes excepcionais que cantam as palavras de Florbela Espanca com todo o sentimento que merecem.
Descubram algumas delas.
Meu Amor - Cristina de Sousa
Fumo - Débora Rodrigues
Eu - Ana Laíns
Podem ouvir todos os temas nesta playlist no YouTube. Se gostam de fado e poesia e de vozes fenomenais, estão no sítio certo.
Quem foi Florbela Espanca?
Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa em 1894. Apesar de ter vivido apenas 36 anos, deixou uma das obras mais marcantes da poesia nacional, reconhecida pela sua qualidade poética e atitude transgressora para as normas da época. E tudo começou num ambiente familiar muito especial.
O pai, João Maria Espanca, era um antiquário com gosto pela fotografia e pela nova arte do cinema que, apesar de casado, manteve uma relação autorizada pela mulher com uma criada, Antónia da Conceição Lobo. Desse relacionamento nasceu Florbela e o seu irmão, Apeles.
A mulher de João Maria Espanca, Mariana do Carmo Inglesa Toscano, foi madrinha de batismo das duas crianças. Mariana era estéril e terá sido essa a causa provável desta combinação fora do comum.
Os dois irmãos crescem e são educados na casa do pai. Desde cedo, a pequena Florbela demonstrou uma enorme sensibilidade artística, escrevendo os seus primeiros poemas e contos ainda na primária. Mais tarde, tornou-se numa das primeiras mulheres a frequentar um curso do Liceu, onde entrou em contacto com as maiores obras da literatura da época.
Em 1916, tenta promover a sua poesia, numa altura em que passava por algumas dificuldades financeiras, e torna-se jornalista para um suplemento do jornal O Século. No ano seguinte, foi uma das 14 mulheres a ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 347 alunos.
Depois de um aborto com consequências para a sua saúde, Florbela Espanca começa a apresentar os primeiros sinais de problemas psicológicos. Entretanto, publicou o seu primeiro livro de poemas, Livro de Mágoas, com grande sucesso. Segue-se o Livro de Sóror Saudade, em 1922.
Por essa altura, a vida pessoal de Florbela Espanca entra num tumulto. Desiste do curso da Faculdade de Direito, separa-se do marido com quem casou em 1913 e casa-se com um alferes da Guarda Republicana, de quem se divorciou em 1925 para se casar de seguida com o médico Mário Pereira Lage. Em 1927, o irmão Apeles morre num desastre aéreo, o que agrava a sua saúde mental.
Nos anos seguintes, Florbela Espanca tenta o suicídio por várias vezes, acabando por falecer no dia do seu 36.º aniversário por uma overdose de barbitúricos.
Até ao dia da sua morte, Florbela escreveu contos e poemas, muitos publicados postumamente, que receberam a admiração de outros poetas e artistas pela sua visão e voz únicas, que quebram com os costumes e imposições da sociedade em que viveu.
Se não conheciam a obra de Florbela Espanca, de certeza que agora a conhecem melhor graças a estes artistas de língua portuguesa. É uma escritora que vale a pena descobrir e perceber a sua obra conhecendo o contexto da sua vida e da sua época.
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