O que é a concertina?
A concertina é um instrumento popular que se espalhou por várias tradições musicais. Vamos conhecer as suas origens e alguns estilos onde a podemos ouvir.
O que é a concertina?
História da Concertina
A concertina em várias tradições musicais
Ilhas Britânicas
Da Europa para os Estados Unidos
Argentina
Vallenato
A concertina em Portugal
Notas finais
O que é a concertina?
A concertina é um aerofone de palheta livre, ou seja, produz som através da vibração de pequenas línguas de metal presas a uma fresta, ativadas pela passagem forçada de ar. Outros instrumentos de palheta livre são o acordeão, a harmónica e o harmónio (ou órgão de fole).
A concertina tem uma estrutura muito semelhante ao acordeão. Tem um fole para produzir a circulação de ar necessária à produção sonora mas, em vez de teclas, usa apenas botões, que estão colocados de lado numa caixa hexagonal, no seu formato tradicional.
No entanto, e com a evolução que os instrumentos sofrem nas várias tradições musicais, existem concertinas com formatos diferentes, que iremos mostrar mais à frente.
É um instrumento diatónico que tem uma característica semelhante às harmónicas: quando o ar passa numa direção produz uma nota, mas dá uma nota diferente quando o ar passa na direção oposta. A direção do ar é controlada abrindo e fechando o fole.
É também mais pequena que um acordeão tradicional, daí ter viajado para mais longe, como companhia de marinheiros que a usavam para acompanhar as suas canções.
História da Concertina
Tanto a concertina como o acordeão partilham as mesmas origens e princípios de funcionamento de outros instrumentos tradicionais baseados num fole que forçava ar por palhetas. O mais antigo de que temos registo é um instrumento chinês chamado sheng, do qual existem ilustrações que datam de 1100 AC.
O primeiro acordeão, na sua forma básica com fole e teclas, foi inventado em 1822, em Berlim, graças aos novos métodos de fabrico proporcionados pela Revolução Industrial.
A concertina desenvolveu-se de forma independente na Inglaterra e na Alemanha. A versão inglesa foi inventada em 1829 por Sir Charles Wheatstone, o nome de referência na tradição anglosaxónica. A versão alemã, criada por Carl Friedrich Uhlig surgiu cinco anos depois, em 1834, e desenvolveu-se durante a década de 1850 para pequenas igrejas que não tinham a capacidade de comprar órgãos.
A primeira versão de Wheatstone não usava um fole para empurrar o ar, mas o sopro humano. A versão de fole de Wheatstone foi patenteada em 1844, que desenvolveu diversos tipos para poderem ser tocados em quartetos ou quintetos - agudo, tenor-agudo, barítono e contrabaixo.
Apareceram virtuosos da concertina, que conseguiam tocar a abertura de Tannhauser de Wagner, o que chamou a atenção de alguns compositores mais eruditos. Mas, pela sua portabilidade, ganhou vida em géneros de música mais ligeira e popular, como na música tradicional britânica, na polca e no tango argentino já no final do século XIX.
A concertina em várias tradições musicais
A concertina tem um bom volume, o que faz com que seja perfeita para tocar em conjunto com outros instrumentos, e onde há banda, há dança. A solo ou em conjunto, a concertina tem servido como instrumento que acompanha danças folclóricas em vários países.
Ilhas Britânicas
No seu formato de caixa hexagonal com botões de lado, antes de partir mundo fora pelas mãos de marinheiros, a concertina integrou as tradições irlandesa e inglesa. É um dos instrumentos que podemos ouvir em jigs e reels irlandeses.
Da Europa para os Estados Unidos
A polka nasceu no século XIX, logo a seguir às invasões napoleónicas, na região da agora Chéquia. É um estilo de dança que permitia aos pares dançarem mais próximos, em vez de cirandar à volta um do outro em coreografias de conjunto como era hábito nas cortes, o que lhe dava um ar de escandaloso, logo, mais divertido para quem a dançava.
Rapidamente se tornou popular pela Europa fora, integrando a tradição irlandesa também. As emigrações em massa para o Novo Continente no final do século, especialmente da Polónia, levaram à implantação deste estilo em comunidades baseadas na Costa Leste dos Estados Unidos, com um dinamismo que ainda hoje se mantém.
A concertina é um dos instrumentos que fazem parte do som desta dança tradicional, que continua a ter os seus intérpretes e seguidores.
Argentina
A concertina na Argentina chama-se bandoneon e descende da versão alemã do século XIX, e foi rapidamente adotado no género nascente do tango em Buenos Aires
O bandoneon originalmente tinha 60 notas espalhadas por 30 botões como teclado mas, no início do século XX, surgiu uma versão sofisticada mais adequada ao som do tango, de 142 notas com 71 botões.
Como os botões são organizados de forma bastante ilógica, dispostos em ambas as extremidades do instrumento, com cada botão a dar uma nota diferente ao abrir e fechar o fole, o bandoneon é extremamente difícil de dominar.
No entanto, é o instrumento definitivo que exemplifica a voz e a alma distintas do tango. E o nome definitivo do bandoneon é Astor Piazzolla.
Vallenato
Também na América do Sul existe um género musical que usa concertinas que se assemelham mais a acordeões, mas de botões, em vez de teclas e mais pequenos.
O Vallenato é um estilo musical que surgiu na Colômbia, mais exatamente no vale entre a Sierra Nevada de Santa Marta e a Serranía de Perijá. Foi disseminado pelos agricultores que viajavam pela região com o seu gado em busca de pastagens ou para vendê-los em feiras. Como viajavam de cidade em cidade e a região não tinha comunicações rápidas, estes agricultores serviam de portadores de notícias para as famílias que viviam noutras cidades ou aldeias.
Estes trovadores, impressionados com o som do acordeão, incorporaram este instrumento na sua música. O Vallenato era considerado música de classe baixa mas, gradualmente, começou a penetrar em todos os grupos sociais em meados do século XX.
Hoje é Património Imaterial da Humanidade UNESCO. Podem descobrir o som e a História do Vallenato neste pequeno documentário realizado pela altura desta distinção.
Concertina Hohner El Rey del Vallenato no Salão Musical
A concertina em Portugal
Em Portugal, a concertina hexagonal é chamada de concertina de palhaço. A nossa concertina é uma versão mais próxima do acordeão, originalmente chamada de harmónio de duas carreiras, mas que passou a ser denominado por concertina na tradição popular portuguesa, nem sempre de forma consensual.
De acordo com a Enciclopédia de Tradições Populares de José Alberto Sardinha, “a introdução destes instrumentos em Portugal verificou-se na segunda metade do séc. XIX e veio substituir os instrumentos musicais tradicionais artesanais, até então dominantes (flautas, pífaros, gaita-de-foles, viola popular portuguesa, guitarra portuguesa)”, para fazer dançar o povo português.
Já na segunda metade do séc. XX “quando os bailes populares abandonaram o modelo tradicional, esta família instrumental passou a desempenhar um papel preponderante nas tocatas dos ranchos folclóricos.”
A concertina portuguesa assistiu a um renascimento a partir dos anos 90 no norte de Portugal, especialmente na região do Minho.
Vale a pena visitar esta Enciclopédia para mais informações sobre este e outros instrumentos tradicionais portugueses.
Concertina Hohner Corona III no Salão Musical
Concertinas e Acordeões, de teclas e botões
Notas finais
Seja qual for a versão e tradição que preferirem, a concertina é um instrumento musical que ainda exerce o seu fascínio em músicos de todas as gerações, e que é central na vida e na música de comunidades espalhadas pelo mundo fora.
O Salão Musical tem os instrumentos que precisam para dar voz à tradição, de concertinas e acordeões a outros que os possam acompanhar. Façam-nos uma visita.