Uma breve História do Sintetizador
O que é um sintetizador e quais são as suas origens?
O sintetizador é um dos maiores exemplos de como a evolução da eletrónica teve um papel fundamental na evolução da música. Venham conhecer as origens e marcos mais importantes da História deste instrumento revolucionário.
Índice
O que é um Sintetizador?
Da Luz se fez Som: a revolução elétrica
A revolução eletrónica
Compactos e poderosos
Síntese FM
A revolução digital
Síntese de Software
…e de volta ao analógico
Notas finais
O que é um Sintetizador?
O sintetizador faz parte da família dos instrumentos eletrónicos. É uma máquina que produz sons a partir de um ou mais geradores eletrónicos, como válvulas ou osciladores - ou seja, dispositivos capazes de fornecer um sinal senoidal, retangular ou triangular na saída sem que nenhum sinal específico seja aplicado à entrada, explorando a única tensão de alimentação – sem o auxílio de qualquer vibração de natureza acústica ou mecânica.
Isto se falarmos de sintetizadores analógicos. Existem sintetizadores digitais, que utilizam um computador em vez de válvulas para gerar sinal e alterá-lo.
Mas os sintetizadores começaram muito antes dos computadores, mais especificamente com a eletricidade.
Da Luz se fez Som: a revolução elétrica
A história do sintetizador remonta ao final do século XIX, graças às experiências que exploravam a interação entre eletricidade e som.
As primeiras experiências que ligaram a eletricidade ao som foram realizadas por Alfred Graham em 1895 e levaram à criação de um dispositivo que gerava som a partir controlando a voltagem.
Em 1899, William Du Bois Duddell, observando o ruído das lâmpadas de arco voltaico de Londres, percebeu que poderia controlar as frequências audíveis ajustando a tensão aplicada aos eletrodos. Duddell criou o Singing Arc, um instrumento elétrico cujo funcionamento não estava muito distante do que seria utilizado mais tarde nos sintetizadores controlados por voltagem, onde a voltagem elétrica é aumentada ou diminuída com uma relação de 1 Volt por oitava.
1904 marca o surgimento do primeiro tubo de vácuo, criado por John Ambrose Fleming, que permitia controlar fluxos de corrente. Dois anos mais tarde, surge o Audion. Inventada por Lee de Forest, esta válvula tinha um terceiro eletrodo que permitia amplificar os sinais elétricos de entrada e gerava oscilações persistentes. A introdução dos tubos de vácuo em 1915, com o Audion Piano, marcou uma era em que a tecnologia de válvulas passou a impulsionar a criação sonora e que duraria até ao surgimento da tecnologia de transistores, nos anos 50.
Até essa década, surgiram vários instrumentos a válvulas como o mítico Theremin (1924), o Ondes Martinot (1928) e o Trautonium (1930).
Foto: 30rKs56MaE / Japanese Wikipedia
A revolução eletrónica
A invenção do transistor em 1947 levou a um avanço significativo da tecnologia, afetando todas as atividades humanas e a música não foi excepção. Este novo componente facilitou o controle de tensão e abriu o caminho para a miniaturização .
O aumento ou diminuição da tensão elétrica permite a síntese do som, controlando a frequência, timbre, forma de onda e intensidade com a ajuda de diferentes módulos de produção e controle de som, ligados entre si. É este sistema que cria os famosos sintetizadores modulares .
Os primeiros sintetizadores modulares são uma invenção dos engenheiros acústicos Harry Olson e Herbert Belar. Em 1955, desenvolvem o primeiro sintetizador eletrónico nos laboratórios da Radio Corporation of America (RCA). Inicialmente criado para pesquisa sonora, a sua invenção atraiu compositores em busca de novas possibilidades musicais.
O avanço significativo veio em 1957 com o RCA Mark II, o primeiro sistema eletrônico que automatizou osciladores e módulos conectados. Com doze osciladores senoidais, utilizava uma fita de papel perfurada para codificar a informação sonora, desde o controle de volume, ao timbre. O Mark II foi uma revolução, apesar de sua complexidade e tamanho imponente: ocupava uma sala inteira.
Compactos e poderosos
Na década de 1960, sintetizadores como Moog III, Buchla e Syn-Ket surgiram com designs mais compactos. A síntese subtrativa, exemplificada pelo Moog, coexistiu com a síntese aditiva, introduzida por James Beauchamp, que construía tons a partir de sinais puros.
O Moog III, desenvolvido por Robert Moog, apresentava dois teclados de cinco oitavas que permitiam controle quase infinito sobre diversos aspectos do som. O Buchla, por sua vez, inovou com um "teclado" sensível ao toque, semelhante a uma escala de violino.
Mas o momento que trouxe o sintetizador para a música popular foi o MiniMoog, a versão portátil do Moog III. Era um sintetizador menor e mais barato, mais prático para atuações ao vivo e o primeiro a ser vendido em lojas de música. É o modelo padrão do conceito de sintetizadores como instrumentos independentes com teclados integrados.
Vários compositores pegaram nesta nova ferramenta e usaram-na de forma brilhante como Wendy Carlos, talvez a figura mais importante da música eletrónica. O seu álbum de estreia Switched-On Bach é a recriação de peças do grande compositor barroco num Moog. Entre outra obras relevantes de Carlos está também a banda sonora do Laranja Mecânica.
Os sintetizadores eram cada vez mais compactos e poderosos, passando a ser um dos sons que definem os anos 60 e 70, especialmente na música psicadélica e na nascente música completamente eletrónica, pela mão dos Kraftwerk. Emerson, Lake & Palmer, Brian Eno e os Pink Floyd foram outros artistas que também utilizaram os sintetizadores para definir o seu som.
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Síntese FM
Os primeiros sintetizadores, como o Moog e o Buchla, utilizavam a síntese subtrativa, que retirava elementos indesejados de um sinal. James Beauchamp, da Universidade de Illinois, trouxe a síntese aditiva à tona, construindo tons a partir de sinais puros
A descoberta da síntese de modulação de frequência (FM) na década de 1960, por John Chowning, trouxe uma nova revolução a esta tecnologia. Esta forma de sínteses altera o timbre de uma onda sonora, modulando a sua frequência, tornando o som mais complexo. Era também ideal para dar o passo seguinte na evolução do sintetizador: a implementação digital.
Entretanto, a evolução do sintetizador de instrumento monofónico para instrumento polifónico - ou seja, de uma nota apenas para várias vozes em simultâneo - fez com que fosse cada vez mais usado em instrumentações complexas e como base de composições.
A revolução digital
Em 1978, uma nova empresa americana chamada Sequential Circuits lançou um instrumento inovador, o polifónico Prophet 5. Foi o primeiro sintetizador "híbrido", que combinava a produção de som analógico com o controle digital. Por essa altura, a Moog revela seu Polymoog, totalmente polifónico. Surgiram também outros sintetizadores com armazenamento de memória, como o Oberheim OB-X e o Roland Jupiter-4 .
Entretanto, a introdução do MIDI em 1981 revolucionou a comunicação entre instrumentos musicais digitais, e seria fundamental para ligar estes instrumentos a uma nova ferramenta que começava a surgir na vida quotidiana: o computador pessoal.
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Síntese de Software
A era digital trouxe consigo o surgimento da síntese de software, com o lançamento do primeiro sintetizador de software comercial, o Reality, em 1997. A integração de sintetizadores de software em estações de trabalho de áudio digital (DAWs) através do padrão VSTi, criado pela Steinberg, impulsionou a expansão desta forma de criação musical.
A síntese de software evoluiu consideravelmente à medida que os computadores se tornaram mais poderosos. Tecnologias como a modelagem física, granular e a síntese de teclados eletromecânicos tornaram-se parte integral de softwares DAW avançados.
Esta tecnologia é a base dos estúdios caseiros e os sintetizadores, seja em que formato, sistema de síntese ou tecnologia de processamento, são uma ferramenta fundamental para produtores e criadores musicais de toda a escala.
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…e de volta ao analógico
O século 21 testemunhou a ressurreição de teclados analógicos e equipamentos modulares. A introdução do formato Eurorack pela Doepfler Electronics, em 1996, e o renascimento de designs históricos por empresas como Moog, Roland e Korg destacam a coexistência entre o passado e o futuro na paisagem dos sintetizadores.
Hoje em dia, existem ávidos colecionadores de sintetizadores modulares analógicos e é muito comum ver artistas eletrónicos modernos a utilizar estes sistemas ao lado de sistemas digitais, como Ólafur Arnalds.
Notas finais
Hoje, o mundo dos sintetizadores é caracterizado por uma diversidade incrível de abordagens tecnológicas e estilos musicais. Do surgimento do Singing Arc à síntese digital contemporânea, a história do sintetizador é uma saga fascinante de inovação, expressão musical e constante busca por novas fronteiras sonoras.
São instrumentos cada vez mais avançados e poderosos, sendo possível ter uma orquestra nas nossas mãos, com sons reais (ou mais irreais ou surreais) ao nosso dispor. E a um preço cada vez mais acessível.
Se quiserem saber mais sobre a história do sintetizador, recomendamos os seguintes recursos:
- The History of Synths!
- History of the Synthesizer, Part 1 - Yamaha Music
- History of the Synthesizer, Part 2 - Yamaha Music
- Discovering Digital FM: John Chowning Remembers – Yamaha Music
- From Trumansburg to Abbey Road: History of the Moog Synthesizer
- The history of synths (teaches us a lesson.)
- A Brief History of Synthesizers
- Instrument history: the synthesizer — Google Arts & Culture
Se são, ou ficaram fãs, do som sintetizado, temos no catálogo do Salão Musical sintetizadores de vários tipos. Visitem a nossa loja online e descubram o instrumento que vos pode inspirar para fazer mais e melhor música.
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Foto: Adi Goldstein / Unsplash