O que é o jazz?
O que é o jazz, quais são as suas origens, características marcantes e os seus instrumentos essenciais? Descubram tudo neste guia rápido.
Se alguma vez ficaram arrepiados com o saxofone de John Coltrane no início do Love Supreme, se sentiram que a bateria de Elvin Jones controlava o vosso pé, se ficaram hipnotizados pelas notas do piano de Bill Evans, então já sentiram o poder do jazz.
O Jazz é um estilo musical sinónimo de criatividade, improvisação e liberdade. Esta breve explicação sobre o que é o jazz vai levar-vos a conhecer as suas origens, características marcantes e os instrumentos essenciais para tocar neste estilo.
Índice
História do Jazz: onde tudo começou
Principais características do Jazz
Improvisação
Ritmo sincopado
Harmonias sofisticadas
Improvisação e interação musical
Benefícios de Tocar Jazz
Os Melhores Instrumentos para Tocar Jazz
Grandes Nomes do Jazz:
Notas finais
História do Jazz: onde tudo começou
O jazz nasceu no final do século XIX em Nova Orleães. Neste período, as comunidades afro-americanas pegaram em elementos de blues, ragtime e música espiritual, e criaram um som que refletia tanto a alegria como as adversidades do quotidiano. A espontaneidade e o sentimento eram essenciais desde o início, como em tantos outros estilos populares. Era uma música de celebração e comunhão, feita para dançar, mesmo quando tudo parecia correr mal.
Nos Loucos Anos Vinte, o jazz ganhou destaque nacional nos Estados Unidos com a ascensão do estilo Dixieland, nascido precisamente em Nova Orleães. Louis Armstrong e Jelly Roll Morton ajudaram a popularizar o género, levando-o para palcos de todo o mundo.
Durante esta década, os clubes de jazz tornaram-se centros culturais vibrantes, particularmente em cidades como Chicago e Nova Iorque. Os ritmos do jazz saíram das ruas pobres do sul dos Estados Unidos e entraram nos salões de festas das classes mais ricas, marcando o estilo de vida hedonista tão bem retratado por Francis Scott Fitzgerald nos seus livros.
Depois do Dixieland, o swing emergiu como a forma predominante de jazz. Foi a era dourada das big bands lideradas por Duke Ellington, Count Basie e Benny Goodman. O swing trouxe o jazz para as pistas de dança, tornando-o mais acessível ao público em geral. Este período também viu um maior reconhecimento de músicos afro-americanos, apesar das barreiras raciais ainda presentes na sociedade.
Mas, ao mesmo tempo que o estilo se popularizou por ser dançável, havia músicos que se aventuraram musicalmente para além das pistas de dança. A década de 1940 assistiu ao nascimento do bebop, um estilo mais complexo e virtuoso. Artistas como Charlie Parker, Dizzy Gillespie e Thelonious Monk revolucionaram o jazz com solos intrincados, harmonias sofisticadas e um ritmo mais acelerado.
O bebop não era pensado para dançar, mas sim para ouvir, consolidando o jazz como uma forma de arte intelectual. Paralelamente, o hard bop adicionou elementos do gospel e do rhythm and blues ao bebop.
Nos anos 1950 e 1960, o jazz continuou a evoluir com o cool jazz de Miles Davis e Dave Brubeck, caracterizado por uma abordagem mais suave e melódica. Aliás, o ano de 1959 é considerado como o ano mais importante da história do jazz, com o lançamento de discos importantes para a História da Música como Giant Steps de John Coltrane, Time Out de Dave Brubeck, Mingus Ah de Charles Mingus, ou Kind of Blue de Miles Davis, entre tantos outros.
Esta época também trouxe o free jazz, com figuras como Ornette Coleman e John Coltrane a desafiar as convenções tradicionais do género. O jazz assumiu-se nesta época como um estilo musical avançado e muito exigente para intérpretes e públicos.
Os avanços tecnológicos na indústria musical abriram portas para novas variações. O jazz fusion dos anos de 1970 combinou elementos do jazz com rock, funk e música eletrónica. Bandas como Weather Report e artistas como Herbie Hancock expandiram os horizontes do género, utilizando novas tecnologias e explorando estruturas musicais inovadoras.
Desde então, o jazz continuou a diversificar-se. Artistas como Wynton Marsalis lideraram um movimento de regresso às raízes do jazz tradicional, enquanto outros, como Pat Metheny, exploraram influências contemporâneas.
O jazz é hoje um conceito muito abrangente, onde músicos de origens diversas misturam estilos tradicionais com outros mais contemporâneos e experimentais, testando os limites da musicalidade. É, pelo seu conjunto de regras, mais do que um estilo musical, mas uma linguagem interpretada de forma aventureira por músicos criativos, em tempo real e em diálogo entre si.
Principais características do Jazz
O que torna o jazz tão único e desafiante? Estas são algumas das suas características principais, que atravessaram décadas e estilos:
Improvisação
No centro do jazz está a capacidade de criar no momento. Um músico pode pegar numa melodia simples e transformá-la em algo completamente novo, permitindo que cada interpretação seja única. A improvisação surge de dois aspectos importantes: domínio das possibilidades musicais do tema, com as variações possíveis fornecidas por técnicas músicas como a substituição de acordes; e o diálogo entre músicos, ou seja, ouvir o que os outros estão a tocar e responder, como numa conversa.
Por isso é que o jazz é considerado um estilo tão exigente, não só pela sua complexidade rítmica e harmónica mas também porque é fundamental que os músicos dominem as suas regras para poderem comunicar musicalmente, em tempo real, para que esse diálogo flua naturalmente.
Ritmo sincopado
Esta técnica dá ao jazz a sua energia característica, criando sensações de surpresa e dinamismo. O ritmo do jazz tem um swing - ou balanço - diferente. Nas tradições musicais, especialmente nas culturas ocidentais onde o compasso 4/4 é o padrão, a primeira batida assume prioridade sobre as outras. No jazz, a segunda e quarta batidas de um compasso 4/4 é que ganham destaque. A primeira batida forte serve o propósito de dançar ou marchar, mas os músicos de jazz sabem que o tempo 2 e 4 são as batidas que dão o swing.
Harmonias sofisticadas
O jazz usa acordes complexos e progressões harmónicas que oferecem profundidade e sofisticação, com inversões e extensões pouco usadas na música popular que normalmente fica por acordes maiores e menores. Acordes de sétima são a base do jazz, muitas vezes usando só as notas que definem o acorde, como a nota raiz, a terceira e a sétima. Esta simplificação abre possibilidades para extensões e inversões mais complexas, e oferece uma maior agilidade para os músicos.
Depois, há as progressões tradicionais que definem a sonoridade do estilo: se o blues assenta numa progressão harmónica entre os acordes I, IV e IV (o primeiro, o quarto e o quinto de uma escala diatónica) durante 12 compassos, o jazz tem na sua base a progressão II - V - I, que lhe dá a sua sonoridade característica.
Improvisação e interação musical
A comunicação entre os músicos é essencial. Cada membro de um grupo de jazz reage aos outros em tempo real, criando uma experiência colaborativa e orgânica. Mas como é que isso acontece num estilo com acordes e progressões complexas, com ritmos difíceis de acompanhar? Partilhando um vocabulário comum. É aqui que entram as progressões tradicionais, e os temas fundamentais para todos os músicos de jazz, os standards.
Imaginem que chegam a uma jam session, com músicos com quem nunca tocaram. Como é que todos podem tocar a mesma música? Dominando os standards. Se todos conhecerem a progressão de Autumn Leaves ou Rhythm Changes, têm um bom ponto de partida para tocar em conjunto durante umas boas horas.
De forma mais simples, imaginem que um grupo de músicos combina tocar em conjunto sobre os acordes de Parabéns a Você, sem usar a melodia que toda a gente conhece, pelo menos da mesma maneira, e aplicando um vocabulário musical específico: acordes de sétima, que podem ser intercalados por outros para introduzir progressões II-V-I dentro da progressão normal, para abrir espaço para linhas melódicas diferentes, usando cromatismos e escalas que não a diatónica do tom dominante.
É por isso que o jazz é uma linguagem e não apenas um estilo. Quanto maior for o vosso domínio, melhor a entenderão e maior facilidade terão em comunicar as vossas ideias musicais.
Benefícios de Tocar Jazz
Para os músicos, explorar o jazz pode trazer vantagens tanto técnicas como criativas, mesmo que não seja o estilo que tocam no vosso dia a dia. Alguns dos benefícios mais relevantes são:
- Desenvolvimento técnico: Ao tocar jazz, vão desafiar-se a dominar escalas complexas, ritmos variados e técnicas avançadas. Podem aprender o básico de uma língua mas, se a dominarem completamente, e a souberem falar de forma fluída, terão muito mais gozo em a falar.
- Confiança na improvisação: Esta habilidade é uma mais-valia não só no jazz, mas também noutros estilos musicais. Ajuda-vos a pensar rapidamente e a expressar ideias musicais de forma espontânea.
- Enriquecimento criativo: O jazz incentiva-vos a experimentar e a sair da vossa zona de conforto, permitindo que descubram novas abordagens para tocar e compor.
- Audição ativa: Ao tocar jazz, vão desenvolver a capacidade de ouvir atentamente os outros músicos e de responder musicalmente, melhorando a vossa perceção auditiva.
Os Melhores Instrumentos para Tocar Jazz
O jazz pode ser tocado numa vasta gama de instrumentos, mas alguns os seus símbolos. Aqui ficam alguns exemplos mas, se quiserem conhecer os instrumentos do jazz mais a fundo, vejam as nossas sugestões de instrumentos para tocar Jazz.
- Saxofones: O saxofone é o maior símbolo do jazz. De Johnny Hodges a Coltrane e Wynton Marsalis, são inúmeros os mestres deste instrumento icónico.
John Packer JP042S
- Guitarra: Guitarristas de jazz adoram modelos semi-hollow, pois oferecem um som quente e redondo. As guitarras Gretsch eram muito usadas nos anos de 1940 por músicos de jazz pela sua qualidade e fiabilidade. Os modelos mais modernos mantêm essa tradição, a um preço muito acessível.
Gretsch G2420 Streamliner Cutaway Fireburst
- Baterias: a bateria jazz é considerada o topo do Everest técnico para todos os bateristas. É um instrumento que exige um controlo dinâmico absoluto, uma capacidade inventiva para responder aos estímulos dos outros músicos, ao mesmo tempo que mantém a ordem e a unidade no conjunto.
Piano: o piano é o instrumento que elevou alguns dos músicos de jazz a um estatuto quase mitológico: Thelonious Monk, Herbie Hanckock, Bill Evans, Keith Jarrett, Brad Mehldau, Horace Silver, todos levaram as 88 teclas do piano a níveis musicais difíceis de alcançar pelo comum dos mortais. Muitas vezes de improviso, muitas vezes a interpretar músicas de uma enorme complexidade rítmica e harmónica, sempre com uma entrega que nos faz lembrar porque é que ouvimos músicos reais a fazer música a sério.
Piano Cauda Pearl River GP188A PE Professional Grand
- Contrabaixos: O som profundo e vibrante de um contrabaixo é, muitas vezes, o que nos lembra que estamos a ouvir jazz. A sua função é marcar o balanço e ajudar a definir a harmonia, para que os outros músicos usem as formas simplificadas de acordes (shell chords) que falámos anteriormente. Oferece dinâmica rítmica e swing, e consegue ser um instrumento incrivelmente expressivo nas mãos de um músico competente. Como Niels-Henning Ørsted Pedersen.
- Livros de Partituras: O “The Real Book” é um recurso indispensável, reunindo centenas de standards que servem de base para jams e performances.
The Real Book of Jazz
Na nossa loja online, encontram todas estas opções, com descrições detalhadas para vos ajudar a escolher o que melhor se adapta às vossas necessidades.
Grandes Nomes do Jazz:
Conhecer os pioneiros e lendas do jazz é fundamental para compreender o género. Aqui está uma lista para servir de ponto de partida na vossa exploração do que é o Jazz.
- Louis Armstrong: Um dos primeiros grandes nomes do jazz, conhecido pelo seu virtuosismo no trompete e pela sua voz inconfundível.
- Miles Davis: Revolucionou o jazz várias vezes ao longo da sua carreira, desde o bebop até ao jazz fusion.
- John Coltrane: Mestre do saxofone, trouxe profundidade espiritual e técnica incomparável ao género.
- Ella Fitzgerald: A "Rainha do Jazz" encantou o mundo com a sua técnica vocal impecável e o seu scat singing.
- Thelonious Monk: Pianista e compositor inovador, conhecido pelas suas melodias e harmonias pouco convencionais.
Explorar as gravações destes artistas é uma forma inspiradora de aprender mais sobre o jazz e descobrir o vosso estilo.
Notas finais
O jazz é um universo cheio de possibilidades, perfeito para quem quer evoluir como músico ou simplesmente explorar novas sonoridades.
O jazz incorpora uma vasta gama de estilos e continua a inspirar músicos em todo o mundo. Festivais internacionais, como o Montreux Jazz Festival e o Newport Jazz Festival, celebram a riqueza e a diversidade deste género musical.
Em Portugal, o jazz tem espaços e festivais próprios, em todo o país. Se quiserem uma lista exaustiva dos festivais dedicados ao jazz em Portugal vejam esta lista feita pela JazzLogical, e descubram qual é o evento mais perto de vocês.
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Foto Mick Haupt | Unsplash