Vinis, cassettes e mp3
Um dos truques para descobrirmos a que geração uma pessoa pertence é o seguinte: dêem-lhes uma cassette com a fita de fora e um lápis. Ou então, perguntem se os cartuchos de oito pistas precisavam de ser rebobinados (resposta no final do texto).
Os suportes de reprodução musical afetam e muito a forma como ouvimos e nos relacionamos com a música. Há quem ache que o Walkman foi o princípio do isolamento do melómano e o fim da fidelidade sonora, outros acham que esse foi o momento decisivo para tudo o que veio a seguir.
Purismos à parte, a história dos artefactos que nos guardam a música que ouvimos há mais de um século é fascinante. Vamos falar de cinco formatos que revolucionaram a indústria, os hábitos e a própria música.
Cilindro
O cilindro era usado pelo vibroscópio de Thomas Young, pelo fonoautógrafo de Leon Scotte e pelo fonógrafo de Thomas Edison. Com tantos dispositivos onde poderia ser lido, teve uma vida comercial relativamente longa, de 1877 a 1929. Mais utilizado para ditados do que para música, devido à dificuldade de gravação e reprodução em massa e pela sua baixa qualidade, foi o primeiro suporte amovível de reprodução sonora.
O UCSB Cylinder Audio Archive é o maior repositório de gravações em cilindro e, no seu site, podem encontrar mais detalhes sobre a história deste formato e faixas de áudio, como esta.
Vinil
Provavelmente, este é o rei dos formatos, tanto pela sua durabilidade como suporte standard durante décadas no século XX, como pela qualidade de reprodução. Quem é que, ao ouvir um disco em vinil depois de anos de música em suportes digitais, não ficou assombrado com a experiência? Parece que estão a tocar a música à nossa frente, não parece? (Nota: experiência conseguida com um sistema de som de boa qualidade, outros sistemas podem não reproduzir fielmente esta sensação).
Foi no final dos anos 40 que o mundo começou a deixar que agulhas navegassem nos sulcos irregulares da nossa música. Descendentes dos discos de goma-laca que se liam nos gramofones desde 1890, as rodelas pretas de plástico tornaram-se na imagem da música gravada. Nos últimos anos tem-se assistido a um ressurgimento deste formato, que detém mais de 50% de toda a música vendida em suportes físicos.
Há editoras, como a Music On Vinyl, que se dedicam exclusivamente à edição e reedição de álbuns em vinis de todas as cores e até transparentes.
Cassette
Há uns anos apareceu um vídeo em que dois miúdos tentavam colocar uma cassette num Walkman e quase que falham espetacularmente. Foi nesse dia que muitos de nós assumimos que estávamos velhos. A cassette surgiu em 1962, pela mão da Philips, e veio suplantar os cartuchos de oito pistas. Para além de se poderem ouvir no carro, facilmente podíamos comprar cassettes para fazermos as nossas próprias gravações: foi o começo da pirataria musical, mas também das edições caseiras de autor. E das mixtapes para dar à nossa pessoa preferida.
Quando em 1979 a Sony lança o Walkman, passámos a poder levar a nossa música para todo o lado, e a viver o mundo com a nossa banda sonora de eleição dentro da cabeça. Talvez por nostalgia, ou apenas porque há muitos adeptos do formato, as cassettes parecem estar de volta para edições especiais e limitadas. O problema é que não há muitas fábricas ainda a produzir este suporte, apesar dos lucros terem crescido brutalmente nos últimos anos. Uma dessas últimas fábricas encontra-se em Portugal.
A cassette serviu também para gravar jogos de computador, nos tempos do Spectrum.
CD
O disco compacto foi um formato desenvolvido em co-parceria entre a Sony e a Philips, que procuravam dar uma experiência musical sem fitas magnéticas e sem os estalidos característicos do vinil. A sua dimensão tornava-os mais portáteis, acabando por proporcionar a evolução natural do Walkman em Discman.
No entanto, os audiófilos mais radicais achavam que a compressão digital do som retirava qualidade à música, mas a verdade é que se tornou no formato dominante nos anos 90. Depois vieram os computadores pessoais e a possibilidade de copiar as faixas para o nosso computador e de duplicar CD’s. A indústria discográfica entrou em crise, e o resto já sabemos.
Mp3 e outros formatos digitais
Não vamos encontrar mp3 à venda na feira da ladra daqui a vinte anos, apesar de ser o formato de áudio que a maioria de nós ouviu desde a viragem do século. O Mp3 serve aqui de exemplo para a enorme quantidade de formatos digitais em que ouvimos música, seja guardada num leitor portátil ou PC, seja disponível em aplicações como o Spotify.
Estes formatos revolucionaram o mundo da música porque, pela primeira vez, podemos distribuir imediatamente e para o mundo inteiro a nossa música, sem intermediários, sem necessidade de um suporte físico.
Os audiófilos radicais que referimos acima dizem que os formatos digitais não conseguem proporcionar uma experiência sonora completa, e que a produção musical está a sofrer com a necessidade de se comprimir o áudio para estes formatos. E, na realidade, sem caixas e capas para guardar os discos, as estantes lá de casa passaram a ter menos piada. Vejam neste vídeo as diferenças entre os vários formatos digitais, vão ver que se trata de uma questão de compressão.
O que os estudos provam, é que a nossa experiência musical assenta em vários factores, que não dependem diretamente do suporte que usamos. Seja pela portabilidade, pelo equipamento usado, ou apenas pela experiência de se tirar um disco da sua capa e cheirar o papel e poder apreciar o seu design enquanto nos sentamos a ouvir o trabalho dos nosso músicos favoritos, a forma como vivemos a música depende pouco do suporte em que a ouvimos, mas como a ouvimos.
Seja para gravar para vinil ou para distribuir na internet, o Salão Musical de Lisboa tem para vocês os melhores instrumentos aos melhores preços para criarem essa experiência para quem vos quiser apreciar. Basta dar ali um pulinho ao Largo do Carmo, ou visitarem o nosso site.
Ah, e a resposta à pergunta que fizemos no início é “não”: os cartuchos de oito pistas funcionavam em loop, pelo que estavam sempre a voltar ao início.